sexta-feira, 6 de março de 2009

Vontade e Motivação

Vontade e motivação

relação entre motivos e valores.

Os valores são especificações do bem. Por isso, devo perguntar-me: que considero valioso? É-o realmente?

Somos seres que damos e nos damos, mas também temos necessidades. É muito conhecida a teoria sobre a motivação desenvolvida por Abraham Maslow, centrada nas necessidades.

O homem é um ser indigente - afirma Maslow. - Mal uma das suas necessidades é satisfeita, aparece outra no seu lugar. Este processo é interminável. Dura desde o nascimento até à morte

Descobre que as necessidades humanas estão organizadas numa série de níveis, segundo uma hierarquia de importância. De menor a maior importância, existem cinco níveis de necessidades: fisiológicas, de segurança, sociais, do eu e de auto realização.

As necessidades de cada nível são motivadoras enquanto não estão razoavelmente satisfeitas. Pelo contrário, uma necessidade satisfeita não é um motivador do comportamento humano.

São necessidades fisiológicas a comida, a bebida, o descanso, o exercício, o abrigo, a protecção contra os elementos, etc. As necessidades adquiridas podem-se incluir neste nível.

As necessidades de segurança são bem conhecidas e diversas; na actualidade gozam de um apreço muito especial.

As necessidades sociais são as de pertencer, estar associado), ser aceite pelos companheiros, ter amizades, etc.

As necessidades do eu são, por uma parte, as relacionadas com a auto estima (confiança em si mesmo, autonomia, sucesso, competência, preparação, etc.); por outra, são as que se relacionam com a própria reputação (gratidão, apreço, respeito, prestígio, etc.).

As necessidades de auto realização (no vértice das necessidades do homem) são as de dar vida ás nossas potencialidades, de nos desenvolvermos ou aperfeiçoarmo-nos continuamente, de sermos criativos, de realizarmos um projecto pessoal de vida, de realizar aquilo que de melhor há em nós.

Em muitos seres humanos as necessidades de quinto nível permanecem adormecidas, em grande parte por frustrações experimentadas no que se refere a necessidades de níveis inferiores ou por ter gasto as energias interiores na luta pela satisfação dessas necessidades.

O esquema de Maslow assinalou uma série de excepções à hierarquia de necessidades. Por exemplo, em certas pessoas as necessidades de auto estima parecem ser mais importantes que as necessidades sociais.

Em pessoas altamente criativas, o impulso para criar parece ser mais importante do que qualquer outra necessidade. É o caso de muitos artistas.

Em algumas pessoas o nível de aspiração parece ficar bloqueado num patamar muito baixo. Isto é frequente nas pessoas que sofreram grandes privações.

Em certas pessoas parecem não existir as necessidades sociais. Talvez não tenham encontrado afecto nos primeiros meses da sua vida, e por isso não mostrem desejos de dar e de receber afecto.

Além disso, convém ter em conta que Maslow, apesar da importância que atribui à satisfação das necessidades como condição para o desenvolvimento psíquico, reconhece que a satisfação desordenada das necessidades humanas pode ter consequências patológicas. O desenvolvimento de uma personalidade sã vai para além da questão da satisfação das necessidades básicas. Por outras palavras, a permissividade é patogénica. É precisa uma dose de firmeza, disciplina e frustração para fazer uma pessoa madura (Rodríguez Porras, 1988, p. 19).

Maslow fez uma excelente análise das necessidades humanas. Os primeiros quatro níveis reterem-se a necessidades de carência. O quinto, ao contrário, inclui necessidades de realização. Em todo o caso, as necessidades apontam para valores ou bens, materiais e imateriais.
2 Motivação e valores


Por outro lado, a auto realização não esgota as necessidades - ou melhor, as aspirações - do ser humano, como se pode ver na teoria da motivação de Victor Frankl. Este famoso psiquiatra viu com particular clarividência, a partir das sua experiência de atrozes sofrimentos em campos de concentração alemães, que o homem é um ser que procura sentido para a vida e que esta mesma vontade de sentido o sustém na existência.

A procura e a consecução de metas têm um efeito motivador na medida em que são valiosos. (Quando o parecem, mas não são valiosos, podem motivar durante a sua busca, mas a sua consecução produz desencanto ou frustração).

Frankl refere-se á meta última. A verdadeira meta da existência humana não se pode encontrar no que se denomina auto realização. Esta não pode ser em si mesma uma meta, pela simples razão de que quanto mais o homem se esforçar por consegui-la, mais se lhe escapa, pois só na medida em que o homem se compromete no cumprimento do sentido da sua vida, nessa mesma medida se auto realiza. Por outras palavras, a auto realização não se pode alcançar quando se considera um fim em si mesma, mas quando acontece como efeito secundário da própria transcendência (Frankl, 1986, p. 109).

O esquema da motivação humana de Pérez López tem muitos pontos de contacto com Frankl. Pérez López distingue três tipos de motivações, que denomina respectivamente motivação extrínseca, intrínseca e transcendente. Esta diferenciação apoia-se na observação de que toda a acção humana se realiza num ambiente - por exemplo, a organização - e que gera consequências em três dimensões diferentes.

Os motivos movem o ser humano pelas consequências que espera em virtude da acção executada. Na motivação extrínseca, pelas consequências que espera alcançar devido às reacções do ambiente; na motivação intrínseca pelo que espera que produza nele a sua própria acção; na motivação transcendente pelas que espera que a sua acção produza em outra ou outras pessoas presentes à sua volta.

São três motivações que se encontram em todas as pessoas humanas, embora em proporções distintas. Se predomina a motivação extrínseca a pessoa está dependente, de certo modo, das reacções dos outros e actua interesseiramente; se predomina a intrínseca, a pessoa pode decidir-se pela acção tendo em vista a sua melhoria pessoal; se predomina a transcendente a pessoa actua pensando ou abrindo-se às necessidades alheias ou à melhoria pessoal dos destinatários da sua actividade.


Este esquema das intenções das motivações é muito interessante, porque não se centra tanto_ no que o ser humano sente como no que a pessoa quer. Destaca as intenções do sujeito, os fins que se propõe. Está muito relacionada, portanto, com vontade humana.

Mediante a acção educativa, os educadores podem ajudar os seus filhos ou aluno(a)s a elevar o nível dos seus motivos, dando preferência à motivação intrínseca e à transcendente.
Quando uma pessoa se move por uma motivação transcendente significa que se abre às necessidades alheias - independentemente da reacção do seu ambiente e da sua própria satisfação pessoal -, o que implica uma maior liberdade e uma maior qualidade da motivação. Abre-se não só às necessidades de outros, como também à sua melhoria como pessoa.

Além disso, podemos avaliar a motivação de uma pessoa para uma acção, considerando a proporção em que entram cada uma destas motivações. Por sua vez, ajudanos a descobrir os valores preferentes ou prioritários de cada pessoa.

3 Valores no âmbito da família



Quando os valores prioritários são os valores ou bens materiais, como ocorre em amplos sectores da sociedade actual, ou quando os valores se confundem com os desejos ou as apetências de um ser humano, como também acontece, a descoberta de verdadeiros valores humanos tem uma grande importância para a motivação da vontade humana. Porquê? Porque a motivação humana remete sempre para valores humanos verdadeiros, materiais e espirituais - sempre que os primeiros sirvam os segundos e não ao contrário.

A descoberta de valores corresponde aos imateriais, aos do espírito, aos que fazem referência à verdade (valores intelectuais), ao bem (valores morais) e à beleza (valores estéticos). São três tipos de valores estreitamente relacionados entre si, porque verdade, bem e beleza são os termos inseparáveis de um trinómio. (Se alguém tentasse separá-los, encontrar-se-ia com uma verdade má e feia, com um bem feio e falso, com uma beleza falsa e má).

Como descobrir estes valores? Cada qual deve tomar a iniciativa de os procurar porque lhe são muito importantes: são os elementos que aperfeiçoam o próprio ser; mediante eles, um indivíduo pode acabar por ser, chegar a ser aquilo que é: pessoa ser mais e melhor pessoa.

Mas nem sempre que se procuram, se encontram. Também é verdade que às vezes, emergem de repente no nosso horizonte existencial, inclusivamente apesar da nossa resistência (...). Um dia qualquer. uma vida rotineira, e talvez sem relevo, pode sentir-se sacudida - e até invadida - pela descoberta de um novo valor que a transforma (Polaino e Carreño, l992, p. 75).

Há algum âmbito onde a descoberta de valores seja menos difícil ou mais provável? Em primeiro lugar, o âmbito vital da família. Se os pais optaram por certos valores e se comprometeram com eles, cada filho que vem ao mundo não tem de desenvolver a tarefa hercúlea e problemática de tratar de descobrir por que valores vale a pena arriscar a vida (ibidem).

Nem sempre acontece assim. Optar por certos valores significa escolher, entre os melhores, aqueles que mais convenham, numa família concreta com as suas circunstâncias actuais, para o desenvolvimento pessoal de cada membro e para a melhoria familiar. Logicamente, serão prioritários os valores humanos mais cultivados por ambos os cônjuges.

Comprometer-se com uns valores e organizar a vida familiar em função deles supõe tê-los interiorizado profundamente. Só assim serão capazes de os pôr de moda na sua família, sendo eles próprios, para os seus filhos, portadores de valores.

Esses valores, vividos pelos pais. com naturalidade e com graça, com bom humor, sabendo sorrir habitualmente, serão atractivos para os filhos e contagiosos. A família, sob esta perspectiva, aparece-nos como um museu vivo de valores. E não porque os pais pendurem os valores nas paredes, como se se tratasse de um quadro que, passivamente, se deve admirar. Os valores familiares constituem, pelo contrário, um dado irrefutável, quase com cunho testemunhal, que vai unido ao comportamento diário dos pais (ibidem, p. 76). E também estarão presentes estes valores na conduta dos filhos, quando os pais, além de os viverem e de os fomentarem, promovem e mantêm vigentes algumas normas e costumes familiares que mostram a presença viva destes valores preferenciais.

Os valores familiares - em famílias cristãs não são só valores naturais, mas também valores sobrenaturais - nenhuma criança inicialmente os questiona. Mais tarde sim, porque, na medida em que cresce, emerge e amadurece a sua liberdade pessoal, há-de comprometer-se também nas escolhas que faz e que, obviamente, são sempre muito pessoais(...). Precisamente, por isso, os pais têm de preparar essa fase de referência - através do seu comportamento - que lhe sirva de orientação (ibidem).

Isto será tanto menos difícil para os pais quanto mais cedo façam da sua família um museu vivo de valores, quando os filhos são ainda muito pequenos.

Será menos difícil também a sua adolescência, quando o quadro de referência e um mínimo de normas e costumes tenham sido parte importante do seu ambiente familiar acolhedor desde a primeira infância.

Deste modo, quando o filho adolescente ou o filho jovem dá prioridade a alguns valores como fundamento para apoiar a sua vida, tem já, como em depósito, uns valores que anteriormente assumiu e integrou, quase sem dar por isso, contagiados ou emprestados pelos seus pais.

Estes valores familiares descobertos na convivência do lar paterno, nas relações diárias de pais e filhos, de irmãos de diferentes idades, traduzem-se - como efeito de descoberta - em motivos. Em consequência, a conduta de cada filho estará motivada desde o principio, a sua vontade estará motivada.

Penso, por contraste, em tantos filhos desmotivados antes e durante a sua adolescência, quando os primeiros responsáveis da família não se propuseram ou não souberam criar este a ambiente familiar cimentado na sinceridade, na generosidade, na lealdade, na laboriosidade, no optimismo, na compreensão exigente, no respeito confiado, na disponibilidade, na gratidão, na amizade e noutros valores humanos.


De:Oliveros Otero
Por: Ana Catarina Martins

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